Fábula em poema do poeta português Curvo Semedo (1766-1838).
Num monturo esgravatando
Formoso galo aguerrido
Acha uma pérola fina
Que havia um nobre perdido.
Por três vezes a escoucinha
Sem nela querer pegar
À quarta, erguendo-a no bico,
Põe-se a cacarejar.
Vêm logo algumas galinhas
Cuidando que era algum grão
Mas vendo a pérola, tristes,
Vão-se deixando-a no chão.
Acaso passa um ourives
E apanhando-a, alegre diz:
“É uma pérola fina!”
“Que belo achado que fiz!”
“Homem”, lhe pergunta o galo,
“Tanto essa joia merece?”
“Pois eu por um grão de milho”
“Te dera mil, se as tivesse.”
Pérola em poder de galo
Que não lhe sabe o valor
É como entre as mãos de um néscio
As obras de um sábio autor.
Uma lição parecida aparece no Sermão da Montanha, proferido por Jesus Cristo e registrado no Evangelho de Mateus: “Não deem aos cães o que é sagrado, nem atirem suas pérolas aos porcos; caso contrário, estes as pisarão e, aqueles, voltando-se contra vocês, os despedaçarão.” (7:6)